Lenda da Fundação de Bondança

Conta-nos a lenda que o primeiro senhor da Casa do Souto tinha por nome António e era o dono da maioria daqueles frondosos castanheiros, sendo homem amante dos viras e modinhas de roda; daí ter convidado muitos rapazes e raparigas dos lugares límitrofes para uma tirada (=arraial). No fim da jornada e após a ceia, a banza e a sanfona, domadas por amestradas mãos, começaram a tocar no terreiro ou, quem sabe, no sobrado da casa, tendo os pares rodopiado ao desafio naquela forte animação de gente moça e gaiteira.

Eles eram os viras de entontecer, as modas de roda e os cantares belos e antigos, a três vozes de fazer chorar qualquer humano: O Vira Flor, o Vira da Aldeia, o Vira de Trempes, o Tareio, a Tirana, a Cana Verde, o Velho, o Senhor da Pedra, as Marrafinhas, a Dolaidinha, Vai o Paspalhão pró Mato, Dona Solidão, Oh minha mãe o que é Aquilo?, Ó José Pinta Flores, Ó balas Encadeadas, Pra onde vai Senhor Lexandre … e quantas outras que já não chegaram até aos nossos dias.

As horas não passavam … corriam, a dança enfeitiçava e continuaria assim até ao nascer do sol não fosse a voz pesada e terminante do Senhor António do Souto, já alta madrugada, a bradar aos bailantes:

– “Bonda de dança! Bonda de dança!”

A dança acabou, mas o brado jamais se extinguiu pelas quebradas da Serrinha até aos nossos dias originando o nome da povoação, “Bonda de dança, Bonda dança, hoje Bondança”.

Qual das duas histórias terá originado o vocábulo BONDANÇA? Os estudiosos da linguística (=etimologistas) que o digam e se pronunciem …

Lenda da Estrada Assombrada

Antigamente, quando ainda se utilizava a via romana para fazer a ligação entre o Porto e Viseu, os mercadores, os almocreves ou os recoveiros faziam a viagem a cavalo, tendo que efetuar várias paragens durante os seus percursos, para comerem, descansarem e alimentar os animais.

Todos os viajantes que se metiam nestas andanças faziam sempre uma paragem numa pequena estalagem que oferecia boa comida, dormida e um bom repouso aos esgotados e poeirentos viajantes. Essa estalagem ficava numa pequena aldeia enfiada na serra, que ainda existe em nossos dias e se chama “Manhouce”, sendo agora freguesia. Após esta paragem, quando os viajantes retomavam aos caminhos, tinham de passar num outro lugar, que se chama “Bustarenga”, sendo no meio destes dois que ficava uma estrada, que uns chamavam de assombrada e outros de amaldiçoada, sendo certo que, nesses pontos, conhecidos em nossos dias como “Cova do Ladrão” e “Outeiro de Alcaranta”, no meio de densa floresta, existia em cada um uma casa, que servia de esconderijo aos salteadores e que lhes oferecia uma observação privilegiada, de um lado para Viseu e do outro, para o Porto.

Esses salteadores possuiam informadores na estalagem, que os avisavam das melhores cargas para assaltarem, mas que acabaram descobertos, tendo sido expulsos da região. Assim, os salteadores tiveram de arranjar uma nova estratégia e arranjaram uma engenhosa forma. Ataram fio de tropeçar de um esconderijo até ao outro e com um badalo em cada ponta. Desta forma uma quadrilha avisava a outra, puxando o fio que fazia soar o badalo no lado oposto; sendo que eles não se limitavam a roubar, mas ainda lhes pregavam sustos de morte para se divertirem.

Com as mudanças que o tempo trouxe, o desenvolvimento associado e novas maneiras de transporte das mercadorias, os salteadores da estrada desapareceram, mas ainda existem vestígios da casa na Cova do Ladrão e uma gruta no Outeiro de Alcaranta.