Isabel Silvestre

Participou ainda no CD Bom Jesus – Alegria dos Homens, produzido na Ilha da Madeira, com música popular religiosa.
Em 10 de Junho de 2005 foi agraciada com a Ordem do Infante. Em 2006 lançou o álbum Cantar Além.
Com a Banda Futrica participou numa versão de Menino do Bairro Negro, incluída no disco Com Zeca No Coração, de 2007.
Mas Isabel Silvestre não se esgota nas cantigas. Em termos práticos, procurou desenvolver socialmente a sua freguesia. Candidatou se e foi eleita Presidente da Junta como independente. Lançou uma unidade de turismo de habitação, exemplar na recuperação da arquitetura rural. É autora de Cancioneiro Popular de Manhouce e de um livro de culinária, Doçuras.
Com a obra Memória de um Povo procura relevar falas, realidades, contos de um povo que reage sempre à desventura e que em cada crepúsculo vê sempre uma nova madrugada, como gosta de lembrar.

Professora do Ensino Primário, fundou em 1978 o Grupo Cantares e Trajes de Manhouce. Seria, contudo, em 1992, através da sua participação na música dos GNR, Pronúncia do Norte, que se daria a conhecer ao grande público.

Ao lado de nomes como Sérgio Godinho, Mão Morta, Madredeus, Delfins participou no disco de homenagem a António Variações.

O seu primeiro álbum a solo foi produzido por João Gil e composto de várias canções populares, cujas raízes remontam aos locais onde cresceu. As sua músicas são pautadas da mesma simplicidade, naturalidade e força expressiva, sugerida pela cantora. O guitarrista Mário Delgado, que co-produziu este disco, teve na realização do disco uma influência notável.

O trabalho de Isabel Silvestre parte da ideia de registar o canto de Manhouce e das terras da sua infância. Em Eu, na faixa Senhora da Saúde, a participação de Rão Kyao, dá voz a uma nova aposta no retrato para as gerações futuras da herança tradicional da região viseense.

Com Pedro Barroso e Vitorino, colaborou na campanha da Fenprof para colocar novamente a funcionar o sistema educativo timorense. No disco Uma Escola Para Timor, de 2000, são interpretadas canções do professor e músico Rui Moura.

 

Mestre Silva

Mestre Silva

António Silva é figura marcante do Grupo Etnográfico Cantares de Manhouce.

António Lourenço da Silva foi um músico autodidacta. “Andava a trabalhar no volfrâmio. Eu vivia só com a minha mãe. A minha mãe esteve a trabalhar em casa do meu par e a única prenda que trouxe fui eu. O meu pai tinha a mulher dele e os filhos. E depois, então, eu andava no volfrâmio a trabalhar e eu dizia à minha mãe: eu quero comprar um violão! Tinha onze ou doze anos. Só quero comprar um violão! E ela disse-me: se tu ganhares 200$00, dou-te 50 para comprar um violão. Eu ganhei 250$00. Mas já tinha tirado 50!! Pensei: ela agora vai dar-me os 50. E deu! Deu-me os 50. […] Eu entrei na camioneta do Vale do Vouga com esses 100$00 e comprei o violão.” (entr. António Lourenço da Silva 1991).

Ao longo da vida, Lourenço da Silva adquiriu vários instrumentos musicais. Depois da ‘viola’ e do bandolim, comprou, em 1940, um violino de cravelhas de madeira na Casa Custódio Cardoso Pereira, em Lisboa. Organizou uma Tuna em Manhouce (ver Tuna de Manhouce). Depois de Abril de 1974, passou a adquirir os instrumentos –vários cavaquinhos, uma viola braguesa, uma guitarra- no atelier do construtor Domingos Martins Machado, em Braga.

 

Lourenço da Silva assumiu um papel central na vida musical de Manhouce tendo integrado o grupo de dança e a tocata do Rancho Regional de Manhouce, respectivamente em 1938, e 1940. Entre 1957 e 1961, Lourenço da Silva assumiu a direcção, conjuntamente com José Gomes Silvestre, do Rancho de Manhouce. Em 1981, foi um dos organizadores do Grupo Etnográfico de Cantares e Trajes de Manhouce’

Falecido aos 88 anos, natural desta freguesia, foi um dos fundadores do grupo de cantares em 1978, que apesar de ser um projecto colectivo, teve sempre uma liderança assumida pelo “Mestre Silva” – juntamente com a cantora, Isabel Silvestre – ensaiador, tocador e solista, tendo sido considerado um músico de “elevada craveira”.

O mestre, entre inúmeras participações, colaborou com Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça nas recolhas para o livro “Cancioneiro Popular Português” e idealizou com o dramaturgo, Jaime Gralheiro, o espectáculo “O Canto da Terra”, considerado pela crítica um espectáculo memorável.

Mestre Silva

António Gomes Beato

António Gomes Beato nasceu a 10 de junho de 1921, em Manhouce, concelho de S. Pedro do Sul, filho de João Gomes Beato e de Maria José de Jesus Silvestre de Campos.

Fez a instrução primária em Manhouce, frequentou o liceu Alexandre Herculano, no Porto e o colégio da Via-Sacra em Viseu, onde integrou o Orfeão.

Em 1943, concluiu a sua formação na Escola do Magistério Primário da capital do norte e ainda neste ano, iniciou a sua carreira de professor, na Escola Primária de Valadares, concelho de S. Pedro do Sul.

De 1944 a 1956, foi professor em Manhouce onde se dedicou à formação da gente do seu torrão natal. Criou o Curso Noturno da Campanha Nacional de Educação de Adultos, com uma média de frequência diária de quarenta alunos. Organizou a Tuna Musical de Manhouce, um dos melhores agrupamentos de música ligeira do distrito, nas décadas de 40/50, formada por jovens manhoucenses e integrada na Campanha Nacional de Adultos, com apoio musical do digníssimo maestro, Álvaro de Campos. Criou um Grupo Cénico que com a Tuna realizou brilhantes exibições das quais ainda há memória. Fundou a Cantina Escolar de Manhouce, onde era servida diariamente uma sopa às crianças e angariou verbas para a construção do respetivo edifício e para a sua manutenção. A pedido de um grupo de amigos de S. João da Serra, organizou e ensaiou o primeiro Rancho Folclórico de S. João da Serra, que com grande sucesso se apresentou no Cortejo de Oferendas para o Hospital de Oliveira de Frades. Comprou, com a ajuda de outros, a imagem de S. João Batista que está na igreja paroquial de Manhouce.

Em 1955, pelo seu esforçado labor na CNEA (Campanha Nacional de Educação de Adultos), foi louvado no Diário do Governo e convidado pelo Dr. Veiga de Macedo, digníssimo Secretário de Estado da Educação Nacional, para trabalhar nos Serviços Centrais, em Lisboa, onde lhe foram confiados variados e distintos cargos.

Em 195, partiu para Moçambique onde se manteve até 1976, com um pequeno interregno em Cabo Verde. No então ultramar português, notabilizou-se como Inspetor Escolar. Tempos difíceis vividos com muita dignidade, na sua missão de orientador pedagógico dando estímulo e apoio a muitos professores do ensino oficial e a missionários, em sítios onde faltava tudo e o terrorismo grassava.

De regresso ao continente, “de mãos vazias, mas com o coração cheio de fazer o Bem”, depois de quase duas décadas dedicadas aos Serviços da Educação, fixou residência em Miramar, mas manteve-se sempre ligado às suas origens.

Fez parte do Grupo Etnográfico de Cantares e Trajes de Manhouce.

Os seus méritos foram reconhecidos em vida, com a atribuição de inúmeras menções honrosas e de vários prémios, em concursos de poesia e Jogos Florais e sobretudo, relacionados com a sua atividade como professor e dinamizador cultural (entre eles, o Prémio Casa das Beiras pela sua obra educativa realizada em Manhouce, com Diploma de Honra e o seu nome inscrito no Livro dos Beneméritos de Instrução).Foi homenageado (por iniciativa das Casas de Lafões de Lisboa e do Rio de Janeiro e da Casa da Beira Alta-Porto). Após a sua morte, os seus amigos lafonenses dedicaram-lhe, também, uma honrosa homenagem, cujo registo, com quadra da autoria do digníssimo Dr. Celso Cruzeiro, foi colocado na casa onde nasceu.

Foi professor, músico e poeta.

O seu amor a Lafões começou logo na juventude, apegando-se à preservação dos valores culturais da região.São da sua autoria diversos artigos didático-pedagógicos, poemas, contos, lendas, tradições e canções (divulgados pela imprensa e recitados em reuniões culturais, festejos públicos, escolares e familiares). Algumas canções, musicadas pelo irmão, António Lourenço da Silva e por Messias Tavares Duarte, constituem verdadeiros hinos de louvor à sua terra e à sua gente. Foram ensinadas pelo autor às crianças que nunca as esqueceram e, atualmente, continuam a ser cantadas em ocasiões festivas, nomeadamente, nas Marchas Populares de S. Pedro do Sul (Aldeia de Mil Encantos; A Terra Mais Portuguesa; Bailado da Neve; Moinhos da Minha Terra; Quero Leitinho; Serranita de Manhouce; Sou de Manhouce; entre outras). Ao longo da sua vida, colaborou com os seus artigos em jornais e revistas portuguesas, moçambicanas e brasileiras.

Da sua obra destacam-se três publicações ligadas à região: “Cortejo de Oferendas”; “Canções do Vouga” e “ Lafões a Tradição e a Lenda”.

Faleceu no dia 4 de junho de 2001.

António Gomes Beato